Se tem uma coisa que eu amo, pela qual eu sou completa e absolutamente apaixonado nessa vida, é o cheiro da noite. Eu sempre notei esse aroma peculiar, mas agora que eu moro no décimo sétimo andar de um prédio, ele adentra a minha casa de forma mais notável. Não mais de forma leve e sutil, mas de forma marcante, ainda que com a delicadeza, aquele “pé ante pé” de um convidado.
O legal do cheiro da noite é seu aspecto sinestésico. Porque ele tem som, tem visual, ele te abraça e afeta seu tato e, claro, tem um aroma característico, que te pega pela familiaridade.
Ele inclusive é pontual, tendo hora marcada. Lá pelas 6 e pouquinho, quando os últimos raios de sol deixam o céu. Como eu disse, ele te pega pela sinestesia, por afetar todos os seus sentidos, um por vez e, as vezes, todos juntos.
Começa com o vento frio vindo. Esse vento traz sons. O pessoal jogando futebol nos arredores, tão amadores mas tão engajados. Se você tem ouvidos delicados, recomendo fechar a janela já que a cada 10 palavras, 5 são palavrões. O som de música das casas vizinhas ou dos estabelecimentos reservados para shows nos arredores. De ambulâncias e sirenes ao longe. De gato e cachorro ansioso, pedindo comida.
Inclusive, noto: novamente, sou vizinho de uma escola de samba. Agora reflitam.
O som de Tv, do Jornal Nacional, da novela das oito nove. O grito do pessoal vendo partida do time. Ou comemorando porque alguém foi chutado pra fora do BBB.
Esse vento também carrega cheiros. Cheiro de perfume. De cigarro. De óleo fritando porque alguém está fazendo a janta. Cheiro de umidade, aquele cheiro molhado que precede a chuva.
E ao final, esse cheiro carrega visuais. Porque todas essas “imagens” acabam formando uma maior, tal qual uma colcha de retalhos. Pecinhas de um quebra cabeça que compõem uma imagem que é maior que a soma de suas partes. A imagem de uma cidade viva, ativa e respirando.
E uma cidade com um perfume que é só dela.
Acabei de ler um texto da BBC - o qual, só de birra, não vou linkar aqui - falando que os profissionais da geração Z tem sido alvo de reclamações por parte de seus empregadores, frustrados porque esses jovens não se comportam como a geração anterior. Aí você vai ver as reclamações e o que aparece é o seguinte:
Falhas de comunicação
Dificuldade de entender normas e etiqueta
Habilidades multifuncionais pouco desenvolvidas
Tendência a procrastinação.
Vamos uma por uma? Tão comigo?
Falhas de comunicação
O que eu entendi disso: O chefe manda uma mensagem de meia duzia de palavras ou uma mensagem de áudio mal e porcamente explicando o que precisa e fica surpreso quando o funcionário fez o que ele pediu. Aí o problema foi ele que não soube se fazer claro ou o funcionário que não entendeu os elementos implícitos do pedido. Mas retomo isso adiante.
Dificuldade de entender normas e etiqueta
Tá ligado como teu chefe adora contar uma piada cretina e sabe, veja bem, SABE que todo mundo vai rir porque, afinal, ele É a pessoa pagando teu salário? Ou quando você dá uma resposta direta e recebe um olhar atravessado porque você não falou com seu superior - ou com alguém que acha que ocupa esse papel - com a devida reverência? Bem isso.
Habilidades multifuncionais pouco desenvolvidas.
Retomo o ponto do primeiro item. Porque o que o autor do artigo está chamando de “habilidades multifuncionais” nada mais é do que aquele gostoso “ACÚMULO DE FUNÇÕES”. Vocês sabem: “ô odair, tu já tá levando esses itens lá pra cima. Tô com umas paradas jogadas lá na minha sala, você não quer levar também?”. Ou “então, estamos com um funcionário a menos. Você se importa de ficar como vendedor aqui até a gente se ajeitar?”. Sério, eu sou MUITO chato com isso porque eu já vi um ex-chefe meu usando o menino de T.I. pra, entre outras coisas, ajudar a pintar parede e a ajustar parte elétrica da empresa. E quando chegou a hora de cortes de gasto, o que esse funcionário MEGA dedicado ganhou? Exatamente. Uma carta de demissão, outra de recomendação e um tapinha nas costas com a promessa de que “as portas estarão sempre abertas”. No meu trabalho anterior, não tinha UM mês sem que eu recebesse uma função nova, que NÃO era a que eu fui contratado pra fazer. E nem é como se fosse pra eu substituir as coisas que fazia pelos projetos novos. O lance era equilibrar todos, tal qual aqueles tiozinhos no circo que equilibram pratos girando em cima de varetas.
Tendência a procrastinação.
Porque quando te dizem que é pra você fazer em um mês, na urgência e você entrega em duas semanas, da próxima vez, teu chefe vai esperar em duas semanas. Talvez em uma. E vai ficar em cima, esperando que você acelere tal qual um esportista tentando quebrar o próprio recorde. E é difícil fingir urgência pra alguém que não está no mesmo espaço físico que você.
Já tive chefe que vinha gritando mesmo, cobrando urgência urgentíssima, pra no primeiro sinal de problemas, quando o projeto dependia da parte dele do trampo, ele puxar o freio de mão e dizer que dá pra estender o negócio.
Sério… se você não “veste a camisa da empresa”, você é um problema. Porque agora não basta trabalhar. Você tem que internalizar a missão do trampo, você tem que QUERER levar o trabalho pra casa, querer passar mais tempo no trabalho, não reclamar quando chega mensagem no seu celular depois do seu horário.
Você precisa SER sua função.
Mas é complicado esperar isso quando, ao mesmo tempo, esses parasitas sociais vendem que todo mundo deveria querer mais e empreender. Duas mensagens que se anulam. Eles querem líderes naturais mas que também sejam bons comandados.
E toda uma geração tá sentindo o cheiro da mais pura bullshit vindo disso.
E essa molecada? Eles estão, justificadamente, muito, MUITO frustrados.
E aí vêm esse tipo de matéria. Explicar que teu chefe só tá dizendo isso porque quer o seu bem. Porque, afinal, o sucesso da empresa é O SEU sucesso.
Certo?
…..
….
Certo?
Quando eu morava de aluguel, eu via filmes de horror em casas assombradas e pensava “porque demônios fulano só não sai da porra da casa?”.
Agora, no entanto, como os 50% proprietário de uma casa, ajudando a pagar - pelas próximas décadas - o financiamento do próprio apartamento, eu entendo eles não saírem.
Fodam-se os fantasmas. Nada que uma sessão de exorcismo e uma linha de sal no batente da porta não resolvam.
Não venho pagando boleto de condomínio e aturando uma hora e meia de reunião de moradores por qualquer superficialidade para um espírito desencarnado vir requerer meu imóvel.
“minha casa, minha VIDA?”
Oh, hell yeah, filho da pu**.
Recomendações, certo?
Vejam SWARM. Série de Janine Nabers e com envolvimento de Donald Glover nos roteiros e produção. Sete episódios, fechadinha.
É sobre fandom e uma fã específica. Como a vida dela entra em parafuso. E aí, obviamente, pessoas começam a morrer.
O primeiro ep. é bem qualquer coisa. Do segundo em diante, no entanto, o negócio vai numa curva ascendente LINDA de ver.
Não li muita coisa, porque RELI muito gibi dos x-men pra retomar os posts sobre os heróis mutantes lá no blog.
Mas vou recomendar um livro. Sem figuras. Pois é. Invejosos diziam que eu mal era alfabetizado. Chupa essa.
O nome é “Editor’s burial”. É uma série de artigos da New Yorker que serviram de fontes de inspiração para os que aparecem na ficcional revista francesa que, por sua vez, é o motor da história em “The French Dispatch”, filme mais recente de um de meus dois diretores de cinema favoritos, Wes Anderson (o outro sendo esse aqui).
Como autor de textos, é lindo ver gente talentosa escrevendo e poder usá-los como inspiração e referência pros meus próprios textinhos. Você acham oficialmente lá na amazon e, no caso do epub, por meios menos oficiais na baía pirata de vossa preferência.
É isso crianças. Não vou me estender mais, até porque estou com princípio de resfriado. E ansioso porque hoje é quinta e é dia em que Stella, minha better-half, cozinha seu lendário omelete de queijo com farofa na manteiga que, tipo, PU** QUE PARIU, é divino.
Então, vou lá. Me entupir de anti-térmicos, anti-gripais, pastilhas para dor de garganta e o omelete mais gordo e deliciosamente calórico que já comi na vida.
Pra quem fica, hasta. Se saírem, peguem agasalhos. Resfriado é uma mer**.
#2Sweet
Respect.